28/07/2015

Linda Martini



Uma banda que declara aquilo que faz como rock/punk mas que recusa o peso de ter que definir o seu estilo e admite diferentes registos como influências musicais e/ou criativas, inclusive hip-hop. Linda Martini é actualmente um grupo composto por quatro portugueses que cresceram nos subúrbios de Lisboa - linha de Sintra. Distinguidos pelos leitores da Blitz várias vezes com o título de “disco do ano” e com o apoio e admiração de Henrique Amaro da Antena 3 desde o início da sua carreira, antecipa-se um futuro jubiloso para este peculiar grupo, do qual fazem parte:

André Henriques como vocalista e na guitarra;
Cláudia Guerreiro no baixo e voz;
Hélio Morais na bateria e voz;
Pedro Geraldes na guitarra e voz.

Juntando-se no ano de 2003, Linda Martini começam por explorar, inicialmente fazendo parte do público e mais tarde como banda, os acolhedores concertos em locais como Paradise Garage, Ritz Club (já extinto) e a apelidada Casa Ocupada, uma casa abandonada tomada pela comunidade punk e hardcore entre 1997 e 2002, local mítico onde para além da música partilhada faziam-se jantares vegetarianos. Associados à subcultura straight edge, o seu principal foco foi desde cedo a música.

Desenvolvido entre 2003 e 2005, é lançado oficialmente o primeiro EP do grupo:

Linda Martini (2005), com 4 músicas onde se confirma o já atribuído registo de pós-rock pelo público mais próximo da banda. Nasce assim o primeiro hino dos Linda, que continua a ser, passados mais de dez anos, uma das músicas favoritas dos seus ouvintes. Amor Combate narra a degradação de uma relação e os sentimentos contraditórios de quem a conta.




Olhos de Mongol (2006), o primeiro álbum dos Linda (designados assim por muitos dos fãs) brinda-nos com três guitarras, um baixo, uma bateria, quatro vozes e as arriscadas letras em português, a que se mantém fiéis até hoje. Somos presenteados com nove músicas (incluído Amor Combate) e há desde “guitarras assanhadas, baterias demoníacas e um brilhantismo lírico simplesmente desolador”. O Amor É Não Haver Polícia, Quarto 210, Dá-me A Tua Melhor Faca são alguns dos restantes temas. Com um excerto do poema político FMI do cantautor português José Mário Branco, Partir Para Ficar, adquire, para mim, o seu espaço especial no disco pela recriação (em parte) de um tema que nos remete a uma viagem temporal e a um estado de espírito inicialmente depressivo mas que termina de maneira estranhamente esperançosa, sendo todo o lirismo acompanhado por um violento instrumental.




Foram entretanto lançados dois EP:

Marsupial (2008), com 6 músicas, pouco exploradas ao vivo. Do fantástico As Putas Dançam Slows, e dos restantes temas intimistas a Sabotagem que descreve sucintamente o significado da monotonia que as manhãs trazem e como tudo é igual e sem vida de dia apontando como a única forma de sabotar esse vazio a partilha da beleza da noite, o quarto escuro, com alguém de quem se gosta.



Intervalo (2009), com 5 músicas, gravadas ao vivo. Inclui remakes de Raposo Manhoso, tema de “Marsupial”, Cronófago e Dá-me A Tua Melhor Faca, temas de “Olhos de Mongol”, Lição de Vôo Nº 1, tema da 1ª EP da banda e ainda um excerto recriado da música original de Fernando Tordo, Adeus Tristeza, que manteve o nome. Esta última foi a primeira música que ouvi dos Linda e sem me saber situar no tempo em que me foi apresentada, sei que a adorei. Por tudo. Pela intensidade, desde o instrumental às vozes, pela raiva tranquilizante que nos faz sentir (mais tarde percebi que é habitual). Um quase literal acenar de despedida a qualquer tipo de tristeza intrínseca ou extrínseca. Só me dá vontade de dar pulinhos de gratificação!




Linda Martini chegou a ser constituído por mais um elemento, o guitarrista Sérgio Lemos, que entretanto se afastou do grupo, anteriormente ao começo e concretização do segundo LP do nesse momento mais maturo grupo.

Casa Ocupada (2011), homenageia o local onde expandiram horizontes musicais e onde mergulharam numa subcultura estimulante, que relembram com saudade. Com menos uma guitarra, André ganha mais espaço neste álbum. “Direccionado para os concertos”, pelas palavras de Hélio, Casa Ocupada traz-nos 10 músicas totalmente originais. Mulher-a-Dias, Amigos Mortais, Juventude Sónica (tradução de Sonic Youth, banda americana a que são regularmente comparados) são alguns dos temas a que se juntam Ameaça Menor e Belarmino vs, que remete para o documentário do cineasta português Fernando Lopes. 100 Metros Sereia enche-nos o ouvido e enche-se de conteúdo lírico com a repetição ofegante, até depois do instrumental terminar, da frase “Foder é perto de te amar, se eu não ficar perto”.


Turbo Lento (2013), gravado pela editora internacional Universal, chega-nos 10 anos depois do primórdio da banda com 11 músicas originais. A editora não inibe Linda Martini de fazer a música de sempre com a energia de nunca. Um álbum de afirmação a um ritmo alucinante. Juárez, Febril (Tanto Mar), Panteão, Volta são alguns dos temas que não deixam dúvidas da identidade do grupo. Entre rock, punk e hardcore, mais um álbum que se encarrega de nos sentar num carrossel e sentir as diferentes músicas mas sempre com a marca de Linda Martini. Ratos é uma preciosa crítica social, com metáforas que nos levam a reflectir sobre o que fazemos por manter uma aparência que não é a real.



Baú, uma compilação (a juntar às 3 anteriores) de demos, raridades, inéditos e versões de temas da banda oferecido na Blitz de Junho de 2014 permite matar saudades e estimular novos amores como foi o meu caso em relação à versão do Quarto 210 e a recriação da música Sempre Que o Amor me Quiser de Lena d’Água, uma raridade que foi cantada e tocada pelo grupo no programa Concerto de Bolso na Antena 3 que ocorreu em 2010.




Este ano já pudemos ouvir um single, intitulado de Dez Tostões no âmbito do projeto Around the World in 80 Music Videos, com o videoclip filmado na Casa Independente de forma genial, os Linda oferecem um single entusiasmante para aquilo que aí vem. Soberbo, soberbo, soberbo!




Músicas intensas, nostálgicas e tristes que descrevem amor, desamor, ódio, paixão… Linda Martini dão-nos tudo isto em português, pelas letras, pelos membros da banda e pela arte que transcende o possível de explicar mas em que se ouve e sente-se a alma portuguesa. Violento, cru, caótico, que dá azo a uma poesia musical comparável a poucos.


A banda está neste momento em estrada a promover o seu último disco de originais, "Turbo Lento", como habitual em festivais de verão, já tendo acabado a altura das queimas da fita, em que também marcam habitualmente presença. Em 2016 prevê-se a edição do novo álbum ao que a banda já dedica tempo na sua composição. Esperemos que seja o necessário para vermos Linda Martini no palco principal de um grande festival, já estava na altura o merecido reconhecimento.

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