Uma banda que declara aquilo que faz como rock/punk mas que recusa o peso de ter que definir o seu estilo e admite diferentes registos como influências musicais e/ou criativas, inclusive hip-hop. Linda Martini é actualmente um grupo composto por quatro portugueses que cresceram nos subúrbios de Lisboa - linha de Sintra. Distinguidos pelos leitores da Blitz várias vezes com o título de “disco do ano” e com o apoio e admiração de Henrique Amaro da Antena 3 desde o início da sua carreira, antecipa-se um futuro jubiloso para este peculiar grupo, do qual fazem parte:
André Henriques como vocalista e na guitarra;
Cláudia Guerreiro no
baixo e voz;
Hélio Morais na bateria e voz;
Pedro Geraldes na guitarra e voz.
Juntando-se no ano de 2003, Linda Martini começam por explorar, inicialmente fazendo parte do público e mais tarde como banda, os acolhedores
concertos em locais como Paradise Garage, Ritz Club (já extinto) e a apelidada Casa
Ocupada, uma casa abandonada tomada pela comunidade punk e hardcore entre 1997
e 2002, local mítico onde para além da música partilhada faziam-se jantares
vegetarianos. Associados à subcultura straight edge, o seu principal foco foi desde
cedo a música.
Desenvolvido entre 2003 e 2005, é lançado oficialmente o
primeiro EP do grupo:
Linda Martini (2005),
com 4 músicas onde se confirma o já atribuído registo de pós-rock pelo público
mais próximo da banda. Nasce assim o primeiro hino dos Linda, que continua a
ser, passados mais de dez anos, uma das músicas favoritas dos seus ouvintes. Amor Combate narra a degradação de uma
relação e os sentimentos contraditórios de quem a conta.
Olhos de Mongol (2006), o primeiro álbum dos Linda (designados
assim por muitos dos fãs) brinda-nos com três guitarras, um baixo, uma
bateria, quatro vozes e as arriscadas letras em português, a que se mantém
fiéis até hoje. Somos presenteados com nove músicas (incluído Amor Combate) e há
desde “guitarras assanhadas, baterias demoníacas e um brilhantismo lírico
simplesmente desolador”. O Amor É Não
Haver Polícia, Quarto 210, Dá-me A Tua Melhor Faca são alguns dos
restantes temas. Com um excerto do poema político FMI do cantautor português
José Mário Branco, Partir Para Ficar,
adquire, para mim, o seu espaço especial no disco pela recriação (em parte) de
um tema que nos remete a uma viagem temporal e a um estado de espírito
inicialmente depressivo mas que termina de maneira estranhamente esperançosa,
sendo todo o lirismo acompanhado por um violento instrumental.
Foram entretanto lançados dois EP:
Marsupial (2008), com 6 músicas, pouco exploradas ao vivo. Do
fantástico As Putas Dançam Slows, e
dos restantes temas intimistas a Sabotagem
que descreve sucintamente o significado da monotonia que as manhãs trazem e
como tudo é igual e sem vida de dia apontando como a única forma de sabotar
esse vazio a partilha da beleza da noite, o quarto escuro, com alguém de quem
se gosta.
Intervalo (2009), com 5 músicas, gravadas ao vivo. Inclui
remakes de Raposo Manhoso, tema de “Marsupial”,
Cronófago e Dá-me A Tua Melhor Faca, temas de “Olhos de Mongol”, Lição de Vôo Nº 1, tema da 1ª EP da
banda e ainda um excerto recriado da música original de Fernando Tordo, Adeus Tristeza, que manteve o nome. Esta
última foi a primeira música que ouvi dos Linda e sem me saber situar no tempo
em que me foi apresentada, sei que a adorei. Por tudo. Pela intensidade, desde
o instrumental às vozes, pela raiva tranquilizante que nos faz sentir (mais
tarde percebi que é habitual). Um quase literal acenar de despedida a qualquer
tipo de tristeza intrínseca ou extrínseca. Só me dá vontade de dar pulinhos de
gratificação!
Linda Martini chegou a ser constituído por mais um elemento,
o guitarrista Sérgio Lemos, que entretanto se afastou do grupo, anteriormente ao
começo e concretização do segundo LP do nesse momento mais maturo grupo.
Casa Ocupada (2011), homenageia o local onde expandiram
horizontes musicais e onde mergulharam numa subcultura estimulante, que
relembram com saudade. Com menos uma guitarra, André ganha mais espaço neste
álbum. “Direccionado para os concertos”, pelas palavras de Hélio, Casa Ocupada
traz-nos 10 músicas totalmente originais. Mulher-a-Dias,
Amigos Mortais, Juventude Sónica
(tradução de Sonic Youth, banda americana a que são regularmente comparados)
são alguns dos temas a que se juntam Ameaça
Menor e Belarmino vs, que remete
para o documentário do cineasta português Fernando Lopes. 100 Metros Sereia enche-nos o ouvido e enche-se de conteúdo lírico
com a repetição ofegante, até depois do instrumental terminar, da frase “Foder
é perto de te amar, se eu não ficar perto”.
Turbo Lento (2013), gravado pela editora internacional
Universal, chega-nos 10 anos depois do primórdio da banda com 11 músicas
originais. A editora não inibe Linda Martini de fazer a música de sempre com a
energia de nunca. Um álbum de afirmação a um ritmo alucinante. Juárez, Febril (Tanto Mar), Panteão,
Volta são alguns dos temas que não
deixam dúvidas da identidade do grupo. Entre rock, punk e hardcore, mais um
álbum que se encarrega de nos sentar num carrossel e sentir as diferentes
músicas mas sempre com a marca de Linda Martini. Ratos é uma preciosa crítica social, com metáforas que nos levam a
reflectir sobre o que fazemos por manter uma aparência que não é a real.
Baú, uma compilação (a juntar às 3 anteriores) de
demos, raridades, inéditos e versões de temas da banda oferecido na Blitz de
Junho de 2014 permite matar saudades e estimular novos amores
como foi o meu caso em relação à versão do Quarto
210 e a recriação da música Sempre Que
o Amor me Quiser de Lena d’Água, uma raridade que foi cantada e tocada pelo
grupo no programa Concerto de Bolso na Antena 3 que ocorreu em 2010.
Este ano já pudemos ouvir um single, intitulado de Dez Tostões no âmbito do projeto Around
the World in 80 Music Videos, com o videoclip filmado na Casa Independente de
forma genial, os Linda oferecem um single entusiasmante para aquilo que aí vem.
Soberbo, soberbo, soberbo!
Músicas intensas, nostálgicas e tristes que descrevem amor, desamor, ódio,
paixão… Linda Martini dão-nos tudo isto em português, pelas letras, pelos membros
da banda e pela arte que transcende o possível de explicar mas em que se ouve e sente-se
a alma portuguesa. Violento, cru, caótico, que dá azo a uma poesia musical
comparável a poucos.
A banda está neste momento em estrada a promover o seu
último disco de originais, "Turbo Lento", como habitual em festivais
de verão, já tendo acabado a altura das queimas da fita, em que também marcam
habitualmente presença. Em 2016 prevê-se a edição do novo álbum ao que a banda
já dedica tempo na sua composição. Esperemos que seja o necessário para vermos
Linda Martini no palco principal de um grande festival, já estava na altura o merecido reconhecimento.
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