Bon Iver vem de bon hiver, francês para 'bom inverno'. Ao contrário do que o nome da banda faz transparecer, a musicalidade dos Bon Iver é mais quente do que fria e a voz de Justin Vernon deixa um quentinho bem grande dentro de todos nós.
Vernon, vocalista e fundador deste projecto, é um sentimentalista. Podem chamar-lhe lamechas por escrever maioritariamente músicas de amor, mas há muito mais para contar sobre o hipster barbudo por trás de Skinny Love.
Tudo começou em 2007, Justin tinha-se acabado de separar da sua namorada e como tal precisou de se encontrar. Assim sendo, decidiu isolar-se para que pudesse lidar com todos os seus sentimentos. E o que acontece quando um génio se encontra sozinho com todo o tempo do mundo e toda aquela mágoa oprimida que precisava de sair cá para fora? Transforma-se todo esse processo de dor em arte, e foi isso que aconteceu em For Emma, Forever Ago. Vernon escreveu, Vernon compôs e Vernon gravou (tudo com equipamento antigo note-se) e assim surgiu o primeiro álbum dos Bon Iver. Dentro de toda a melancolia e tristeza reflectidas nas suas músicas, consigo achar que esta primeira gravação de Justin Vernon é capaz de ser uma das poucas obras-primas musicais dos anos 2000. Nunca antes tinha ouvido músicas com tanto poder, com tanta raiva exprimida de maneira tão pura e bonita. Confesso que quando presenciei o concerto da banda, difícil foi conter as lágrimas. Este longa duração trouxe-nos grandes temas da banda, bem como o grande êxito Skinny Love, que já conta com inúmeras interpretações de variados artistas. No entanto, como nem sempre os singles são as faixas mais importantes e não querendo menosprezar a genialidade e o poder contidos em Skinny Love, revelo que as minhas preferências vão para os temas que carregam grande peso sentimental neste álbum, são eles Blindsided, The Wolves (Act I and II) e For Emma.
Blood Bank (EP) segue-se a For Emma, Forever Ago e actua quase em forma de contraste em relação ao seu antecessor. O frio passa a quente e eis que recebemos quatro novos temas da banda de braços bem abertos. Este EP, lançado em 2009, trouxe-nos Blood Bank, Beach Baby, Babys e Woods. A faixa que serve como título foi gravada aquando das gravações de For Emma mas por causa do seu carácter mais alegre nunca foi colocada no mesmo. A banda de indie folk começava assim a criar uma larga base de fãs à volta do mundo. O tema Woods foi ainda usado no álbum Unmap do outro projecto de Vernon, os Volcano Choir, tendo sido re-gravado como Still.
Em 2011, Bon Iver, Bon Iver, último álbum da banda até hoje, foi lançado. Todas as músicas deste CD representam um local, disse Vernon na apresentação do mesmo. O facto mais curioso acerca desta gravação está relacionado com o sítio onde foi produzida: uma clínica veterinária remodelada em Fall Creek, Wisconsin. Esta clínica transformada em estúdio conferiu grande liberdade a Justin mas para o vocalista significa muito mais do que isso, sendo que a sua localização era estratégica. Este local de gravação ficava relativamente perto de dois sítios importantes na vida do compositor americano. Eram estes, a casa onde viveu e o bar onde os seus pais se conheceram. A expectativa era enorme, bem como a ansiedade. Mas sempre ouvi dizer que mais vale devagar e bem. Bon Iver, Bon Iver não desilude nem um pouco em relação ao primeiro álbum da banda e na minha opinião, quase que empata em termos musicais com o seu precedente. Ao contrário do que aconteceu com For Emma, prefiro os singles deste longa duração às restantes músicas. Calgary e Holocene são duas presenças obrigatórias na setlist da minha vida. Dois temas belos que me fazem lembrar a água mais cristalina de todas num dia de outono. Talvez tenha sido pelos respectivos videoclips ou até mesmo pela capa, mas só os Bon Iver têm sobre mim o poder de apelar à minha imaginação. Quero ainda destacar Perth e Lisbon, OH, outros dois temas que adoro.
Agora gostava de falar acerca do concerto, no qual tive a sorte de estar presente, dos Bon Iver no Campo Pequeno em 2012.
Era dia 26 de outubro, estava frio e em todo o lado encontravam-se folhas secas no chão. Talvez um dos melhores panoramas para se ir assistir a um concerto destes senhores. Concerto este que servia como apresentação do segundo álbum da banda, mas claro que sem perder os grandes momentos musicais do primeiro. Quando entrei já a sala se encontrava bem composta (o concerto esgotou se bem me lembro) mas ainda assim arranjei maneira de chegar perto do palco. Não queria perder o espectáculo visual por nada deste mundo. Depois do artista que fez as honras do palco do Campo Pequeno, chegam os Bon Iver. A histeria começa e o público fica em êxtase e seguidamente a banda apresenta Perth, que me fez delirar, mas que para aquela plateia não seria o momento musical da noite. Seguem-se então vários temas do álbum de 2011, como Minnesota, WI, Towers, Hinnom, TX, Michicant, Wash., com o tema Beach Baby de Blood Bank (EP) lá pelo meio. O espectáculo de luzes era mágico, bem como a instrumentalização e a acústica presentes no recinto. A apoteose começou então com uma sequência de músicas todas muitos bem conhecidas pelo público presente: Holocene, Blood Bank, re: Stacks, Skinny Love, Calgary e Beth/Rest. Estava consumado então o amor entre a banda e os portugueses que ali estavam naquela noite fria a ouvir um concerto que aquecia os seus corações. A banda retirou-se então para que pudesse voltar para um encore que contava com Creature Fear e For Emma, dois enormes temas de For Emma, Forever Ago. Quando se pensava que já tinha acabado, depois do encore e dos vários elogios tecidos aos público português bem como as despedidas carinhosas dos elementos da banda, os Bon Iver voltam para um segundo encore, que para mim foi o ponto alto desta apresentação ao vivo. Apenas uma música para este encore, cantou-se em uníssono The Wolves (Act I and II) e penso que vários 'what might have been lost' devem ter sido ouvidos no exterior. Foi uma experiência única e linda que voltaria a repetir sem pensar duas vezes.
Para finalizar este artigo, quero deixar-vos com 3 temas (um de cada trabalho da banda) para que possam desfrutar do poderio musical pertencente aos Bon Iver.
Blindsided
Blood Bank
Holocene
And at once I knew I was not magnificent.
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