The Disappearance of Eleanor Rigby (2013)
Director: Ned Benson
IMDb: 7,0
Eleanor (Jessica Chastain) e Conor (James MCAvoy) são um casal vítima de uma tragédia inimaginável e que mudará para sempre a forma como ambos encaram a vida, definindo um novo rumo para a sua relação. A morte do seu filho bebé vai ditar uma mudança drástica na sua união. Eleanor tem dificuldade em aceitar a morte do seu filho e passa por um período difícil. Consumida pela dor, tenta pôr fim à sua vida. Conor, também ele afectado pela morte do seu filho, tenta, sem sucesso, salvar a sua relação e a sua mulher que lentamente se vai entregando à tristeza e ao desgosto que viveu.
Depois de tentar pôr fim à sua vida, Eleanor percebe que precisa começar a sua vida do zero. Ainda que as boas memórias de uma relação feliz prevaleçam no seu subconsciente, Eleanor não olha para Conor da mesma maneira. Há a sensação de que, com o seu filho, também o amor que sentia pelo marido se foi perdendo e dissipando com as lágrimas do luto. Decide, então, pôr fim ao seu casamento, voltar para casa dos pais e retomar os estudos. No fundo, pretende afastar-se de tudo que a levou ao momento mais trágico da sua vida e à perda mais dolorosa.
Conor encara toda a situação com um olhar mais positivo. Ainda que também sinta a dor, tenta continuar a sua vida normal, de modo a garantir a sobrevivência do seu restaurante. Este esforço de Conor também demonstra o amor que sente por Eleanor. Se também ele se tivesse entregue à dor da mesma forma que ela se entregou, rapidamente teriam ambos, numa união nefasta, caído num abismo do qual não conseguiriam sair.
Depois de se separarem, Conor é aquele que, desde logo, entra em negação e tenta salvar o pouco que restava da sua relação. Ainda que vivam vidas separadas e independentes, Conor rapidamente encontra forma de reencontrar os seus destinos. Entre ir à casa da sua família ou persegui-la pelas ruas de Nova Iorque, rapidamente arranja maneira de voltar a estabelecer contacto com Eleanor. Contudo, Eleanor está decidida em relação à decisão que tomou e, ainda que se volte a envolver com Conor, depressa volta a sair de cena e deixá-lo sozinho e entregue a si próprio.
Como em todas as histórias, há sempre duas versões de verdade ou duas forma de interpretar os factos, e nesta história de amor isso não é excepção. E como em todas as relações amorosas, há sempre aquele que deixa e aquele que é deixado. E ambos vivem o afastamento e o fim da relação de modos diferentes. É isso que estes filmes pretendem retratar: a dor e o processo de recuperação em duas perspectivas. Aliás, qualquer pessoa consegue facilmente identificar-se com qualquer uma das personagens.
Uma vez que o processo de recuperação não se deve apenas à perda do companheiro mas, também, à perda de um filho, os filmes também acompanham as mudanças psicológicas que ambas as personagens sofreram graças a essa tragédia. Sem dúvida que Eleanor foi quem mais se transformou durante esse processo. Talvez o facto de ela ter sido a pessoa mais afectada seja a razão pela qual eu gosto mais do filme que apresenta a sua versão. Ou talvez seja o facto de ser mulher, não sei.
Depois de ver um dos filmes não consegui deixar de ver os outros e, como seria de esperar há um que, para mim, me marcou mais. Parece-me que a perspectiva feminina é muito mais interessante. Mostra o pior de uma pessoa, a forma intensa como vivemos a dor, o modo como o sofrimento nos leva a mudar e afastarmos aqueles que mais amamos e que mais querem estar connosco. Mostra o todo um processo penoso que uma pessoa tem que ultrapassar para que se possa voltar a sentir-se viva outra vez. Dá, também, destaque ao processo de construção interior que é necessário depois de uma destruição psicológica tão grande. Evidencia, ainda, que por vezes temos que nos afastar do nosso mundo, para que possamos voltar a casa com as certezas de quem somos e do que queremos.
A versão masculina interpreta as coisas numa perspectiva não tanto de mudança, transformação e auto-descoberta, mas mais numa perspectiva de quem quer recuperar um amor perdido e o esforço que faz para que a união não se volte a quebrar. Representa a aceitação do fim de um ciclo, o render das armas depois de uma longa luta que parece não ter o desfecho que desejamos. Já a versão que juntas as duas histórias, intitulada Them, acaba por ser uma junção dos momentos principais e comuns na história deste casal, não aprofundado a perspectiva mais pessoal.
Qual das versões é melhor ou pior é, como tudo em cultura, subjectivo aos gostos de cada um. Para uns é a Her, para outros a Him e ainda deve haver quem prefira a Them. A conclusão que se pode tirar é que estes são os filmes certos para representar a vivência de uma relação no seu melhor e no seu pior, em ambas as versões que uma história de amor tem. É, também, um filme que questiona um amor que aparentava ser certo e porto seguro para qualquer barco em noite de tempestade mas que se afunda com um trovão ou com uma onda mais forte. Um filme que mostra como de repente podemos ficar sem o chão debaixo dos pés e que nos ensina que por vezes temos que ser os carpinteiros a reconstruir esse chão. E acima de tudo, evidencia que todos estamos em constante mudança influenciados pelas as mais adversas situações. E que nada nesta vida é garantido, nem um amor que parece ser para a vida.
Musicalmente, este não é o filme mais rico e diversificado. Contudo, não queria deixar de apresentar um momento musical neste artigo e, por isso, deixo-vos a música com que terminam cada um destes filmes: No Fait Aways Me de Son Lux com Faux Fix.
You know, before you, I had no idea who I was. Then we were together, I thought I had it all figured out. Now i'm just back to wondering again.
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