11/10/2015

Control

Control (2007)
Director: Anton Corbijn
IMDb: 7,8


Control é um filme biográfico sobre o vocalista e ocasional guitarrista integrante da já extinta banda pós-punk, Joy Division. A vida de Ian Curtis é retratada com base no livro também ele biográfico que Deborah Curtis escreveu, Touching from a Distance (título adequadíssimo).
Anton Corbijn opta por planos simples e pontuais close-ups de modo a esmiuçar a emoção da personagem – sendo habitualmente Curtis o foco. Apesar de filmado a cores, a transição para monocromático parece natural e até essencial para uma maior identificação com a época musical (anos 70 em Inglaterra)… Depois, que cores melhores que não os pretos e cinzentos para descrever o universo do autor de letras melancólicas e introspectivas, repletas de inseguranças, medos e desabafos cansados e tristes?

“Existence. Well, what does it matter? I exist on the best terms I can. The past is now part of my future. The present is well out of hand.” O controlo – ou a falta dele – é posto em evidência e questionado logo nos primórdios do filme. Tudo se desenrola a partir daqui. 

Ian Curtis (Sam Riley) vive atormentado pelos seus pensamentos e ânsias, acompanhando toda a sua introspecção ao som das suas bandas favoritas e cigarros, optando por se afastar, pelo menos de maneira íntima, do contacto humano. A música é declarada várias vezes pelo próprio como o seu refúgio e as drogas que consome desde cedo ajudam a construir um abrigo pessoal, intransmissível e estimulante artisticamente. 

Ian namora com Deborah Woodruff (Samantha Morton), numa expecção de demonstração de carinho e entusiasmo, abrindo o seu mundo e convidando Deborah a entrar e fazer parte dele. O acelerar forçado do que seria o processo natural leva-os a casar rapidamente e a ter uma filha. Entretanto Ian mantém uma relação extraconjugal que a dada altura se torna semi-pública e opta por adiar a decisão de escolher entre ficar com Debbie ou com a lufada de ar fresco e renovado que Annik Honore (Alexandra Maria Lara) traz à sua vida. 


É diagnosticado a Ian epilepsia; a doença e os efeitos secundários dos fármacos têm um efeito negativo na sua vida: o processo criativo torna-se cada vez mais esgotante e são acentuadas as dificuldades no trabalho e relacionamento com os outros. 
Regularmente a peculiar maneira de Curtis dançar é associada à doença que tinha. O actor Sam Riley - à parte das evidentes parecenças físicas - capta trejeitos que marcam a presença em palco de Ian. Em determinadas cenas esquecemos-nos que não é o verdadeiro Ian Curtis que ali está.


O paralelismo entre as letras que Ian Curtis escrevia e a sua vida pessoal e profissional permitem-nos compreender a confusão em que o icónico vocalista vivia, levando-o ao trágico final - que alguns defendem ter sido previamente planeado, uma vez analisada ao pormenor toda a sua escrita.
A viagem através da música é o que torna este filme uma biografia mais interessante que o cliché habitual do artista que não sabe lidar com os problemas "reais". Ian Curtis ofereceu ao público as controvérsias em que a sua mente vivia constantemente, partilhando a intimidade que tanto prezava através da arte que fazia. Sendo ou não profundamente perturbado e imaturo (a questão de quanto pode uma pessoa que não esteja em sofrimento e tenha algum tipo de falha emocional dar à arte levanta-se com esta obra) Ian conseguiu cumprir aquilo a que se propôs, deixar a sua marca, mesmo que isso tenha significado perder o controlo que de uma maneira ou outra ia tendo.

A OST de Control tem essencialmente músicas dos dois álbuns de Joy Division (Unknow Pleasures ou Closer - póstumo) mas passa ainda pelas influencias musicais do grupo e especificamente de Ian Curtis, como Velvet Underground, The Killers, David Bowie. New Order está também presente nas faixas que compõem uma playlist que dará aos apreciadores de punk, rock ou pós-punk um momento prazeroso.


"- What about music – is that beautiful?
- Some of it.
- What about Joy Division’s music?
- Some of it, yeah... but some of it is not meant to be beautiful."

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