12/10/2015

Dave Matthews Band em Lisboa


Eram 20h15 e lá entrava a Dave Matthews Band, recebidos numa forte ovação por uma ainda não muito composta moldura humana. Começam com Wharehouse, música do velhinho Under The Table and Dreaming, álbum que já tem 22 anos. Com o público ainda morno, segue-se a calminha Black and Blue Bird e entra Dancing Nancies, que aquece as gargantas do público da MEO Arena. Só com isto se passam cerca de 30 minutos. Duas músicas depois ainda nos parece tudo muito morno. É aí que Stefan Lessard, baixista, menino-prodígio do grupo que se juntou à banda com apenas 16 anos, começa um solo de baixo e começa Crush, com a sua intro irreconhecível, para delícia do público.

A sequência Lover Lay Down, Sattelite e Grey Street deixam a audiência rendida: podia ter acabado ali o concerto que sairíamos satisfeitos. Um muito suado Dave Matthews explica-nos que já há algum tempo que os seus concertos eram compostos por duas partes. Aconselha-nos a ir beber uma ‘’cerveza’’ no seu português esforçado e agradece com um ‘’obrigado very much for coming’’. No entanto, não acaba aqui. Como é clássico do público português, ainda há tempo para um coro acompanhado de palmas com o ritmo de Grey Street e Carter Beauford, baterista, não consegue resistir e volta ao palco para um solo de bateria. Se foi uma jogada de marketing antecipada? Não sabemos (e quero acreditar que não). Mas que soube muito bem, isso soube.


Cerca de 20 minutos depois entra Dave Matthews, sozinho, acompanhado apenas de um piano e interpreta Death on the High Seas e de seguida Little Red Bird e diz-nos: ‘’I think I wrote this for my kids, cus’ I like them’’. Seguem-se cerca de mais 2h horas de música, boa música. O seguimento de Don't Drink the Water, #41 e So Much to Say deixa toda a gente completamente desinibida. Não havia ninguém que não desse o seu pézinho de dança e é normal: a energia e a alegria com que esta banda toca é completamente contagiante. Dave Matthews, toca e dança como se não houvesse amanhã, sempre com um sorriso maroto e expressões muito características, gosta de divertir o público. 48 anos de idade e ainda tem um alma de um jovem de 20. O resto da banda assim o é também.  

Ouvem-se os jams infindáveis e apercebo-me como aquelas pessoas que estão juntas em cima do palco têm tanta sorte em poderem fazer aquilo que gostam: música, e de uma maneira tão bela. Não há uma única pessoa que seja capaz de desrespeitar o que estão a ver. Quando estávamos nestes jams não se ouvia ninguém a falar, simplesmente se apreciava a música na sua mais bela forma. Dançava-se, sorria-se, alguns choravam. Incrível como algo nos faz sentir tão bem. ‘’Não há banda como esta’’, ouvi alguém ao meu lado, a dizer. É verdade, sim senhora.


What Would You Say, Jimi Thing, Pantala Naga Pampa e Rapunzel, os quatro clássicos da banda norte-americana que fechavam  a parte 2 deste concerto. Com o sentimento que se deu tudo, pedia-se mais, Porque apesar de terem passado cerca de 3 horas, não foi suficiente. As luzes ainda permaneciam apagadas quando, espontaneamente, milhares de pessoas na MEO Arena ligaram as lanternas do telemóvel, acenderam os isqueiros ou qualquer coisa que emitisse luz e criou-se um ambiente mágico.

Os membros da banda chegam para um Encore e mostram-se deliciados com o gesto do povo português que tem de tão característico ser tão quente na recepção aos artistas. Acabam o concerto com o hino Ants Marching, e ninguém se quer ir embora. ‘’Já acabou mesmo?’’ pergunta-se. Para desgosto de muita gente, sim. Já tinha acabado. 3h30 de concerto e pedia-se mais. O que se viu ontem no ex-Pavilhão Atlântico foi uma lição. Uma lição de como não se precisa de ter a maior produção do mundo, nem de estar constantemente a falsamente vangloriar o público para ter mais aplausos. A Dave Matthews Band é uma daquelas bandas que não precisa de mais nada sem ser os seus instrumentos para nos proporcionar um bom espetáculo. Tem energia e acima de tudo sabe fazer música. Têm musicalidade no sangue e aproveitam-se bem disso. Não me lembro de algum vez ter visto algo assim. Sem dúvida alguma, foi inesquecível.

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