10/08/2015

Closer

Closer (2004)
Director: Mike Nichols
IMDb: 7,3


Closer. Perto. Tão perto que melindra. Retratos reais de relações amorosas que reflectem as histórias de amor que nos são próximas. Nada de clichés, nada de “felizes para sempre”, nada de fantasias. Este é um filme para os realistas.
Mike Nichols pega no roteiro escrito por Patrick Marber e não faz mais nada do que criar algo que roça a obra-prima. Com um elenco perfeito, diálogos brilhantes a um ritmo invejável, só peca nas mudanças temporais sem transições pelo meio, o que as torna por vezes bruscas e possivelmente confusas.

Quatro pessoas com um passado, com personalidades distintas mas que se cruzam e formam um quadrado amoroso. Em comum têm a instabilidade emocional, o encanto pelo desconhecido e a vontade desmedida de desejar e ser desejado. 
Alice (Natalie Portman), stripper em Nova Iorque e recém-chegada a Londres conhece Dan (Jude Law), que ambiciona ser escritor mas escreve orbituários. Num início peculiar, entre a multidão, trocam olhares, sendo esta cena acompanhada pela música The Blowers Daughter de Damien Rice, cantor, compositor e instrumentista de indie rock, prevendo aí o que está para vir.


Posteriormente Dan encontra-se com a fotógrafa Anna (Julia Roberts) pois prepara os detalhes finais do seu primeiro livro, inspirado na sua actual namorada, Alice. Anna e Dan rapidamente passam de um encontro meramente profissional para um ambiente com uma acentuada tensão sexual mas Anna rejeita Dan pelo seu comprometimento e acaba por fotografar Alice que chega ao local mais tarde. Larry (Clive Owen), médico, lança-se a um chat na internet no seu tempo vago no trabalho e acaba por ser vítima de Dan na sua vingança à rejeição de Anna. O médico e a fotógrafa encontram-se pessoalmente e a vingança dá lugar ao começo a uma relação entre os dois vitimados.
Numa exposição do trabalho de Anna, Alice faz uma crítica às fotografias que esta tira, incluído a em que ela é a modelo, junto de Larry, e é neste espaço que os quatro personagens se conhecem.
Anna e Dan a partir desse dia envolvem-se durante aproximadamente um ano e é quando decidem contar aos seus respectivos da traição que tudo se torna intimamente intenso.

Baralhado? Nada disso. Isto é só o início daquela que é uma história sobre o comportamento e condição humana, em que a instrospecção faz parte do processo. Questionamo-nos se estamos retratados nalguma das personagens ou até em todas. Flutuamos entre detestar o que a personagem é e adorá-la no momento seguinte ou vice-versa. Não há definidamente os maus ou os bons mas sim pessoas, com atitudes reprováveis ou não, consoante o nosso código moral enquanto espectadores.

Os restantes protagonistas formam por si só um elenco de luxo, contudo, a cena inesquecível de tão teasing, interpretada por Natalie Portman, com a sua peruca rosa - que me remete imediatamente para a cena inicial de Lost in Translation (2003), interpretada por Scarlett Johansson – é apenas uma de todas em que esta aparece. Completamente arrebatadora, como sempre. Mike Nichols opta ao longo da acção por planos próximos, salientando o sofrimento dos personagens.

Perversão, melancolia, obsessão, fraqueza, irracionalidade. Amor?
O amor é desafio e tem um prazo de validade, as pessoas adquiriram uma vontade de conquista e não de preservação e a paixão ganha espaço sobre tudo o resto. Chamamos a isto de amor porque é tudo o que conhecemos. Se o é não o sei, mas a vontade e crença no estado de amor amoroso eterno é cada vez menos comum.

Chocante e duro para quem se possa identificar com as personagens e ainda mais para quem procura um drama romântico habitual em Hollywood. A repetição de “stranger” reforça a intenção de mostrar que nunca conhecemos realmente alguém, por mais envolvidos que estejamos, ao contrário dos filmes com argumentos de Nicholas Sparks em que os personagens se conhecem e reconhecem infinitamente.

Com uma OST impecável, La Cenerentola, a ópera de Gioacchino Rossini, compositor italiano do século 20, impõe um ritmo interessante à conversa através do chat de Dan e Larry.
A cena final é um aproximar da inicial. Remete-nos ao mesmo momento musical e a uma nova multidão. Empurrando-nos para um círculo que é vicioso e que vicia. Depois das fases possíveis de uma relação, o seu final leva-nos a um recomeço e na multidão encontraremos outra cara em quem focar os olhos. Um estranho novo com quem cometer os erros do passado mas carregando cicatrizes a estrear.


“I can't take my mind off you / I can't take my mind… / My mind... my mind... / Until I find somebody new”



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