Closer (2004)
Director: Mike Nichols
IMDb: 7,3
Mike Nichols pega no roteiro escrito por Patrick Marber e não faz mais nada do que criar algo que roça a obra-prima. Com um elenco perfeito, diálogos brilhantes a um ritmo invejável, só peca nas mudanças temporais sem transições pelo meio, o que as torna por vezes bruscas e possivelmente confusas.
Quatro pessoas com um passado, com personalidades distintas mas que se cruzam e formam um quadrado amoroso. Em comum têm a instabilidade emocional, o encanto pelo desconhecido e a vontade desmedida de desejar e ser desejado.
Alice (Natalie Portman), stripper em Nova Iorque e recém-chegada a Londres conhece Dan (Jude Law), que ambiciona ser escritor mas escreve orbituários. Num início peculiar, entre a multidão, trocam olhares, sendo esta cena acompanhada pela música The Blowers Daughter de Damien Rice, cantor, compositor e instrumentista de indie rock, prevendo aí o que está para vir.
Posteriormente Dan encontra-se com a fotógrafa Anna (Julia Roberts) pois prepara os detalhes finais do seu primeiro livro, inspirado na sua actual namorada, Alice. Anna e Dan rapidamente passam de um encontro meramente profissional para um ambiente com uma acentuada tensão sexual mas Anna rejeita Dan pelo seu comprometimento e acaba por fotografar Alice que chega ao local mais tarde. Larry (Clive Owen), médico, lança-se a um chat na internet no seu tempo vago no trabalho e acaba por ser vítima de Dan na sua vingança à rejeição de Anna. O médico e a fotógrafa encontram-se pessoalmente e a vingança dá lugar ao começo a uma relação entre os dois vitimados.
Numa exposição do trabalho de Anna, Alice faz uma crítica às fotografias que esta tira, incluído a em que ela é a modelo, junto de Larry, e é neste espaço que os quatro personagens se conhecem.
Anna e Dan a partir desse dia envolvem-se durante aproximadamente um ano e é quando decidem contar aos seus respectivos da traição que tudo se torna intimamente intenso.
Baralhado? Nada disso. Isto é só o início daquela que é uma história sobre o comportamento e condição humana, em que a instrospecção faz parte do processo. Questionamo-nos se estamos retratados nalguma das personagens ou até em todas. Flutuamos entre detestar o que a personagem é e adorá-la no momento seguinte ou vice-versa. Não há definidamente os maus ou os bons mas sim pessoas, com atitudes reprováveis ou não, consoante o nosso código moral enquanto espectadores.
Os restantes protagonistas formam por si só um elenco de luxo, contudo, a cena inesquecível de tão teasing, interpretada por Natalie Portman, com a sua peruca rosa - que me remete imediatamente para a cena inicial de Lost in Translation (2003), interpretada por Scarlett Johansson – é apenas uma de todas em que esta aparece. Completamente arrebatadora, como sempre. Mike Nichols opta ao longo da acção por planos próximos, salientando o sofrimento dos personagens.
Perversão, melancolia, obsessão, fraqueza, irracionalidade. Amor?
O amor é desafio e tem um prazo de validade, as pessoas adquiriram uma vontade de conquista e não de preservação e a paixão ganha espaço sobre tudo o resto. Chamamos a isto de amor porque é tudo o que conhecemos. Se o é não o sei, mas a vontade e crença no estado de amor amoroso eterno é cada vez menos comum.
Chocante e duro para quem se possa identificar com as personagens e ainda mais para quem procura um drama romântico habitual em Hollywood. A repetição de “stranger” reforça a intenção de mostrar que nunca conhecemos realmente alguém, por mais envolvidos que estejamos, ao contrário dos filmes com argumentos de Nicholas Sparks em que os personagens se conhecem e reconhecem infinitamente.
Com uma OST impecável, La Cenerentola, a ópera de Gioacchino Rossini, compositor italiano do século 20, impõe um ritmo interessante à conversa através do chat de Dan e Larry.
A cena final é um aproximar da inicial. Remete-nos ao mesmo momento musical e a uma nova multidão. Empurrando-nos para um círculo que é vicioso e que vicia. Depois das fases possíveis de uma relação, o seu final leva-nos a um recomeço e na multidão encontraremos outra cara em quem focar os olhos. Um estranho novo com quem cometer os erros do passado mas carregando cicatrizes a estrear.
“I can't take my mind off you / I can't take my mind… / My mind... my mind... / Until I find somebody new”
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