05/10/2015

Lost in Translation

Lost in Translation (2003)
Director: Sofia Coppola
IMDb: 7,8
Drama



Dois americanos, um hotel e uma cidade como Tokyo. Tudo parece uma rotina normal num mundo real, não fossem duas pessoas cruzar-se e mudar os seus destinos de maneira irrevogável.

Chalotte (Scarlett Johansson), é uma jovem recentemente casada com um fotógrafo. O seu marido ruma a Tokyo por motivos de trabalho, ela decide acompanhá-lo sem saber que ficaria presa à solidão delimitada por quatro paredes de um hotel e à angustia de não saber se o seu casamento terá futuro. Só as janelas do seu quarto a salvam de uma monotonia rotineira que apenas irá ser quebrada por Bob Harris (Bill Murray).  Bob é um homem de meia-idade, uma estrela dos anos 70 e  também ele inseguro em relação ao seu casamento de já duas décadas. Desiludido com a vida viaja até ao Japão para uma campanha publicitária, contra a sua vontade e princípios. Depressa entende que vai ser difícil conviver com pessoas com uma língua tão diferente da sua e, também ele, se resguarda no quarto ou no bar do seu hotel.


É neste mesmo bar que os seus destinos se cruzam definitivamente. E assim começa uma relação que não pode ser definida nem como uma relação de amizade, nem como uma relação amorosa. É aquele algo que se encontra ali no meio, que de vez em quando quase que põe o pé numa relação amorosa, mas que recua sempre para aquela zona indefinida para a qual ninguém tem nome. Pode ser considerado o tal amor platônico, em que um sorriso, uma boa gargalhada ou um simples andar de mãos dadas serve perfeitamente para consumar este laço que os une. Juntos embarcam num aventura que só resulta tão bem por serem desconhecidos e por viverem situações semelhantes a nível pessoal. É o tipo de relação inesperada, que só acontece uma vez na vida e que só se vive tão intensamente porque ambos sabem e reconhecem que algo tão puro e genuíno não se pode voltar a viver.


Esta é também uma relação necessária para ambos. Ambos vêm na outra pessoa algo que lhes falta na vida real. No caso de Charlotte, Bob representa um futuro, um futuro que ela anseia e, de certo modo, receia por achar que está estagnada na sua vida. Ainda que não expresse vivamente por palavras, facilmente se percebe que Charlotte tem medo de continuar a alimentar uma relação onde será sempre a sombra do marido e não poderá atingir o tal estado de felicidade plena que muitos buscam num casamento. Bob é a representação desse casamento, infeliz e quase que definido em auto-piloto, em que dois indivíduos continuam uma vida juntos, quando emocionalmente não podiam estar mais afastados. Já Charlotte é a personificação da juvenilidade que falta na vida de Bob e que habita a sua alma divertida, ainda que presa num corpo de um homem de meia-idade. 

Toda a esta aventura representa uma felicidade momentânea e que ambos sabem que vai acabar no momento em que um deles regressar à sua vida real, nos Estados Unidos. É por isso mesmo que é vivida de forma tão intensa. O saber que alguém que nos faz feliz não irá estar connosco amanhã, dá-nos vontade de estar com essa pessoa dia e noite. E é isso que acontece a Charlotte e a Bob. A química destas personagens é bem visível a olho nu. Parece que têm um íman que os atraí e os força, no bom sentido da palavra, a estarem juntos constantemente. Seja dia, seja noite, seja num restaurante, seja num bar, seja em conversas infindáveis sobre tudo e sobre nada, seja num quarto de hotel em que partilham uma cama de forma tão poética e tão pouco sexual. Está presente aquela beleza de vermos dois seres humanos a dormirem juntos, numa cama que parece representar um mundo só deles, em que ambos estão completamente alienados do que os rodeia, parecendo partilhar sonhos que só eles conseguem imaginar e entender.  


Talvez por representarem uma relação no seu estado mais puro e genuíno, é que as personagens nunca se envolvem fisicamente. O saber que esse envolvimento pode magoar Charlotte ou mesmo afastá-la e destruir o que têm, leva Bob a envolver-se com outra mulher. Este é um envolvimento que deixa Charlotte desiludida com Bob, e Bob desiludido consigo mesmo, mas que os dois sabem que seria inevitável.

Este é, sem dúvida, um dos melhores filmes de Sofia Coppola. Com um final como eu gosto, real como foi toda esta relação que eles viveram. E indecifrável, com aquela última frase que Bob diz a Charlotte que até hoje ainda não consegui entender o que significava. A definição do tipo de final fica ao critério de cada um: para os mais realistas será um final feliz, para os mais românticos não é um final dramático, mas pode deixar aquela lágrimazinha no canto do olho. É do tipo de filmes que nos deixa com aquela dúvida tão boa em relação ao futuro.  uma incerteza que nos faz imaginar e sonhar com o que virá a seguir, ficando sempre a pairar no ar a pergunta: “então e agora?”. 



Em termos de banda sonora, muito ao estilo de Sofia Coppola, não podia deixar de destacar a Sometimes dos My Bloody Valentine que tão bem fica naquela viagem de táxi em que vemos o mundo e a cidade de Tokyo através dos olhos de Charlotte. Ou então a última cena, que é tão bem acompanhada pela música Just Like Honey,  dos The Jesus and The Mary Chain. É, sem dúvida, a maneira perfeita de finalizar este filme, descrevendo de forma rigorosa o estado de alma de Bob e a forma como ficou tão preso àquela rapariga simples que numa noite qualquer o abordou num bar de um Hotel no outro lado do mundo.






The more you know who you are and what you want, the less you let things upset you.

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