22/01/2017

Manchester by the Sea

Manchester by the Sea (2016)
Director: Kenneth Lonergan
IMDb: 8,4
Drama



A cada dia que passa, as artes associadas ao cinema e à televisão vão evoluindo e reciclam-se cada vez mais, podendo por vezes causar a sensação ao espectador de que já viu semelhante em algum lado. Manchester by the Sea é um filme eficaz no que toca à simplicidade. Porque não retratar simplesmente a vida das pessoas, com todas as dificuldades que advêm do acto de viver? Já a série This Is Us parte do mesmo conceito. Sim, as sequelas que todos adoram e os super-heróis vão continuar a vender mas lembrem-se que esgotar bilheteiras e alcançar lucros milionários em nada equivale a uma boa lufada de ar fresco cinematográfica.

Quem diria que o irmão de Ben Affleck, Casey Affleck, nos iria um dia surpreender como surpreende neste filme. Affleck é Lee Chandler, um homem dos biscates que vive uma vida repleta de frustração e infelicidade. Percebemos isso nos primeiros minutos do filme, quando Lee trata mal uma cliente ou quando decide começar uma briga num bar sem razão aparente para tal. Estes sentimentos negativos sentem-se hoje em grande peso nas sociedades à volta do mundo. Não malta, isto não é ficção, é a realidade!

Certo dia, tudo muda para Lee quando este recebe uma mensagem de um amigo da família a dizer que o seu irmão, Joe Chandler (Kyle Chandler), tinha tido um ataque cardíaco. Infelizmente o protagonista não chega a tempo ao hospital para voltar a ver o seu irmão com vida. Nesta cena do hospital, conseguimos perceber através de alguns flashbacks que Joe já havia sido diagnosticado com uma doença que algum dia o poderia matar. É-nos perceptível também que os dois irmãos não têm uma relação muito saudável com os seus pais. A apatia de Lee perante a morte do irmão é incrível, quase que parece que não existe ali um pingo de tristeza. Onde andam os sentimentos? 


O protagonista decide então passar uns dias em Manchester-by-the-Sea com o seu sobrinho, filho de Joe, Patrick (Lucas Hedges). É desconfortante por vezes ver a frieza com que os dois debatem a morte do falecido familiar, e sim uso familiar porque quase parecia a morte de um primo em 4º grau ou algo do género. Por esta altura perguntava-me, mas qual será a disfunção desta família? Pouco depois consegui obter a resposta para essa pergunta quando finalmente descobrimos o passado trágico de Lee. Este foi o causador de um incêndio que vitimou os seus três filhos. Tudo por causa de um vício tão estúpido como o da bebida. Quando se é feliz deve-se ter em conta essa felicidade como se fosse um tesouro, devemos aproveitar cada momento como se fosse o último... É isso que o filme nos tenta dizer. Para além da perda das três crianças, Lee fica sem casa, fica sem a sua mulher Randi (Michelle Williams), fica sem nada. Vazio e obsoleto tenta-se suicidar em plena esquadra da polícia. Agora sim, percebe-se o porquê da frieza com que ele trata a situação da morte do seu irmão.

Mais tarde, Lee é informado de que o seu irmão o apontou como guardião legal de Patrick. Informação esta que é levada muito mal pelo protagonista tendo em conta os seus antecedentes. Finalmente começamos a conhecer um pouco de Patrick que afinal parece também estar a sofrer com a morte do seu pai, namorando com duas raparigas ao mesmo tempo para ocupar a sua mente transtornada. Uma delas, Sandy, toca na mesma banda que ele e várias são as tentativas que os dois têm de ter relações sexuais em casa dela, evitando que a mãe descubra. Estas partes tentam aliviar todo o peso emocional que nos foi colocado nos ombros anteriormente.

Manchester by the Sea é um filme excelente no que toca à realidade das interações interpessoais. Nem tudo na vida é cor de rosa. Nem tudo é um conto de fadas. A amargura que por vezes o viver nos providencia é algo que nos molda enquanto seres humanos e creio que seja por isso que o sucesso desta película foi imediato. O homem destruído por dentro que Casey interpreta mereceu-lhe o Globo de Ouro na categoria Motion Picture Drama. O contraste entre as cenas do passado e do presente está feito de forma sublime e claro que não podia deixar de mencionar a actuação de Michelle Williams, que enquanto ex-mulher de Lee, vive uma vida cheia de remorso por toda a culpa que depositou nele depois do incidente na sua antiga casa.

Vejam este filme com olhos de ver e apreciem cada momento da sua construção. Não fiquem desiludidos com o fim, tentem apenas percebê-lo e pensar em qual seria a vossa decisão se estivessem na pele do protagonista. No meu entendimento, o amor por vezes demonstra-se de maneiras parvas e decidimos abdicar de quem nós amamos para que estes consigam encontrar a felicidade noutro sítio e de outra maneira. Mas isso seria um debate muito mais extenso...


"I said a lot of terrible things to you. My heart was broken, and I know yours is broken too."

1 comentário:

  1. Quando se é feliz deve-se ter em conta essa felicidade como se fosse um tesouro, devemos aproveitar cada momento como se fosse o último...

    Mais verdade do que isto não existe

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