08/03/2017

Fences

Fences (2016)
Director: Denzel Washington
IMDb: 7,4
Drama


Fences é o mais recente filme de Denzel Washington que para além de interpretar a personagem principal, decidiu também arriscar-se como director desta película. Fences conta parte da história de Troy Maxson, um ex-recluso e jogador de basebol falhado, e da sua restante família: a sua mulher, Rose (Viola Davis) e o seu filho, Cory (Jovan Adepo). No entanto, o grande destaque do guião é para Troy. É à sua volta que giram quase todos os acontecimentos importantes e é sempre ele que tem a decisão final em relação ao que se passa na sua família. 

Fences é directamente retirado da peça com o mesmo nome do filme, escrita por August Wilson. Tendo em conta que é retirado dessa mesma, percebe-se o porquê desta película ser tão ''parada''. Toda a acção se passa no mesmo lugar, e apesar disso não ser necessariamente incómodo ou um factor mau, neste caso não contribui para o que é a totalidade do filme. A história é muito bem desenrolada e escrita para deixar o espectador a sentir tudo o que pode e deve quando vê um filme: pena, tristeza, nojo, felicidade, compaixão... bem que poderíamos continuar esta lista, mas é melhor ficar por aqui.

Há um grande foco na utilização do diálogo, e já agora realça-se que está muito bem apropriado para a altura que se tenta retratar (anos 50). No entanto, esse diálogo nem sempre é assim tão interessante ou tão entusiasmante, de maneira a que nos deixe completamente presos ao filme. Aliás, posso até dizer, que há momentos um pouco enfadonhos, apesar de haver outros momentos muito poderosos, que são capazes de fazer esquecer os menos bons. O filme está bem transposto para o grande ecrã, mas sinto que falta ali qualquer coisa. Só o diálogo não basta. Se formos analisar o filme como uma exibição de skill de actuação, então podemos dar-lhe um 20. Mas isso, pelo menos para mim, não é a intenção dum filme.


Obviamente, que não podia deixar de fazer referência a duas actuações monstruosas. Primeiro, a de Denzel, que nunca me encheu as medidas como actor, mas que depois deste filme não posso mais ter razão de queixa. Faz um senhor papel e, se ganhasse o Óscar de Melhor Actor, não era mal entregue. Faz um papel tipo anti-herói e seria bastante fácil odiá-lo, mas não o é. É sinal que foi bem feito. Não tenho meio de comparação com o papel original da peça, mas penso que não se afaste muito do que fez.  Uma salva de palmas para ele!
Em segundo, Viola Davis. Já não há palavras que restem para descrever esta senhora. Actualmente, não consigo enumerar uma actriz que melhor represente que ela. Há muito boas actrizes por esse mundo fora, mas Viola tem uma facilidade em captar e mostrar emoção, que chega a ser doentio a maneira como o faz. Cada papel que lhe dão, ela faz melhor que o outro. Para além disso, é mulher para este tipo de filme, para este tipo de papel. Assentou-lhe que nem uma luva, e não haveria outra pessoa que o pudesse fazer melhor. Os seus monólogos são arrepiantes, e a força que transmite para esta personagem também o é. Esta mulher é fantástica. 
Ainda mais. No geral, todos os actores estiveram muito bem, e não se pode apontar o dedo ao filme, pelo menos nesse aspecto.


Como director, Denzel Washington safou-se bastante bem, mas também não correu grandes riscos. Não é um visionário, mas cumpriu. Não digo que Fences não merecesse a adaptação para filme - e nem o devo dizer com duas actuações tão assombrosas como as de Denzel e Viola - mas houve alguma coisa que faltou na transposição de peça para filme. Não faltaram momentos de emoção e de compaixão. Não faltaram momentos de raiva e de irritação. Faltou movimento, faltou acção no seu puro estado. 

Uma das coisas que me deixou mais triste no filme foi a completa ausência de banda sonora. Consigo compreender a escolha, mas é algo que me custa sempre ao ver num filme. Para mim, a música é essencial em qualquer filme, sendo rara a excepção em que concordo que não a haja. Percebo perfeitamente a decisão em omiti-la por completo, até por se centrar numa época totalmente diferente e imagino que seja difícil escolher uma banda sonora para alguns momentos. Mas tal como disse anteriormente, às vezes só o diálogo não chega.

Apesar de ter a noção que em termos de performance e do desenrolar da história o filme é espectacular, fica na boca um gosto amargo. Porque à adição de um acting excelente falta o que faz de Hollywood o que Hollywood é. Falta o showbiz, falta o folclore. Falta o que, neste caso, não faltaria numa peça. Fences peca por se manter demasiado colado a peça, e não preciso de a ver para saber isto.

''Some people build fences to keep people out, and other people build fences to keep people in.''

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